domingo, 15 de agosto de 2010

Pai Nosso Umbandista

Ação das Obsessões e o Combate que Exigem

As obsessões fazem você:
Ver dragões onde há minhocas;
Impacientar-se a troco de nada;
Interpretar com malícia as intenções alheias;
Ficar a todo tempo tenso, como se houvesse perigos em toda parte, e qualquer um fosse atacá-lo a qualquer momento (impulso paranóico);
Desejar fora de hora ou medida ou de alvo;
Ter surtos de raiva, inveja, posse ou poder em relação a pessoas, acontecimentos e posições sociais ou propriedades materiais;
Sentir pena de si, colocar-se como vítima ou ao contrário: com culpa por tudo e condenado inapelavelmente;
Ter medo, além do razoavelmente esperado, e sentir-se continuamente ameaçado, pela velhice ou pela doença, pela crítica ou pela pobreza, pela injustiça ou pela ingratidão dos outros;
Sentir-se caso perdido, sem esperanças ou meio de resgate e salvação, sem acreditar em si mesmo, em Deus ou em ninguém, impelindo-o a render-se, por fim, à total desesperação.
Claro que há momentos em que o perigo e a traição são reais, em que o ataque de fato acontece e em que o impulso de agir imediatamente está certo e oportuno. Falo, porém, do estado de estresse, angústia, medo e desconfiança sistemáticos, que confundem a psique, infelicitam-na, atrapalham as percepções e avaliações que se façam de eventos e pessoas e que por fim levam a alma a um estado de negatividade e de mesquinharia que acaba por se instalar no comportamento do indivíduo, com variantes concorde a personalidade do envolvido pelos tentáculos do mal.

Outrossim, importante observar que aludi a “obsessões” e não a “obsessores”, visto que, amiúde, todo processo perturbador tem nascente e escoadouro no próprio psiquismo do indivíduo; e pelo fato de que, além do mais, ainda que haja agentes externos (encarnados e desencarnados: e muitos há, mais do que se gostaria de admitir) a insuflar padrões patológicos de pensamento e sentimento, são as estruturas conceituais e emocionais do próprio “obsediado” que entram em ressonância com a vibração do inimigo exterior, para, então, colher-lhe as sugestões telepáticas, induzidas ou verbalizadas.
Para imunizar-se deste assalto constante das forças constituídas do mal, lembre-se de que o mundo em que está encarnado é bastante rico de expressões contrárias ao impulso do bem, como de patógenos com relação à vida orgânica complexa, multicelular, e que somente com um sistema psico-espiritual de defesa eficiente é possível proteger-se das constantes tentativas de invasão e controle por parte dos “inimigos espirituais”, da mesma forma que um sistema imunológico é imprescindível ao corpo físico, para sua defesa.
Importante ainda distinguir invasão de controle. Sempre há elementos destrutivos pervagando a mente saudável e sob auto-domínio, apesar de tais agentes não determinarem seu comportamento, nem lhe dominarem seus fluxos de raciocínio e emoção. É o mesmo que acontece com a enormidade de microorganismos potencialmente fatais, que pululam na corrente sangüínea, no aparelho digestivo e na pele de seres humanos e animais, nem sempre causando enfermidades, pelo contínuo combate levado a efeito pelo sistema imunológico.


E o que seria o sistema de defesa psico-espiritual, espécie de sistema imunológico psicológico-moral? Um conjunto de reações condicionadas altamente lúcidas e espirituais, com aspectos intelectivos e emocionais, em perfeita comunhão com a fé, que canaliza para o indivíduo o socorro de inteligências mais avançadas e bondosas, representantes de Deus, no intuito de vencer no embate com os agentes da desagregação e da decadência.
Oração, auto-disciplina, estudo constante, auto-crítica, um consolidado sentido de responsabilidade por tudo que acontece consigo ou em torno de si, generosidade, devoção, paz – tudo isto em regímen de esforço permanente, esforço paradoxalmente sereno (para que não haja pane, colapso, em uma psique sobrecarregada), como uma fortaleza que se erigisse dia a dia, portas a dentro de si mesmo, assim como o sistema imunológico que se fortalece, em contato com agentes nocivos, como se dá com criancinhas que andam de pés descalços ou profissionais da saúde que trabalham horas por dia em ambientes infectados sem contrair enfermidades graves, freqüentemente, como seria de se esperar.
Assim, em vez de mal-dizer as obsessões, entenda que constituem seu maior auxiliar evolutivo; e que, através da relação ativa que desenvolva com elas, no sentido de ininterruptamente processá-las, empenhando-se, quanto possível, em não se render às suas sugestões, estará não só fortalecendo, amadurecendo e enobrecendo seu caráter e sua personalidade, como ainda gerando meios e poder de auxiliar seus entes queridos e todos que puderem usufruir de sua influência pessoal.

Percebe-se, assim, mergulhados como estão os encarnados em verdadeiro oceano de energias e freqüências mentais díspares, por motivo algum, se pode relaxar no seu esforço de vigilância. Não por acaso sugeriu o Mestre Amado que vigiássemos e orássemos para não cairmos em tentação, porque, de fato, a todo instante, está-se, quando encarnado, sob saraivada contínua de forças deletérias e em desajuste, um bombardeio constante de vibrações desencontradas, que exigem permanente determinação e combate da alma devota e da mente lúcida, no sentido de manter o equilíbrio, a paz e a operacionalidade em seus vínculos, compromissos e responsabilidades assumidos, até mesmo em atividades de lazer, repouso e interação descontraída entre companheiros.

Cuidado, em particular, com toda forma de vaidade excessiva, orgulho ferido, medos contínuos ou prevenção sistemática com relação a certas pessoas (pode, mais do que imagina, estar sendo hipnotizado para mal-querer alguém, ou projetando questões íntimas suas, inconscientemente), pessimismo ou depressão, desejos, iras, invejas, ciúmes ou ambições desmedidas, complexo de culpa, vítima ou inferioridade, bem como puritanismo ou fanatismo (com ímpetos de “caça às bruxas” ou à perseguição de “bodes expiatórios”) porque, sem dúvida, por suas portas – mais do que se costuma supor no plano físico, em discursos bem elaborados pela racionalização do ego-razão, que sempre encontra motivos para justificar o injustificável e construir uma realidade paralela de significados para pretextar o que deseja viver – as obsessões adentram e, amiúde, infiltram-se nas mais profundas entranhas da alma, enovelando-a em sufocantes cipoais de mesquinharia, ódio, desejo de vingança, maldade e desconfiança, que, não raro, consomem séculos e encarnações sucessivas, para que seja propiciada libertação de seus cativos semi-voluntários, semi-zumbis, condenados pela loucura parcial de infelicidade a que se confiam...

Benjamin Teixeira
pelo espírito Eugênia.

A Preparação Comportamental dos Médiuns

Se tiveres que chorar por alguém que errou, chora por ti mesmo.

Se tiveres de alterar a voz com irmãos que julgares incursos em erro,

altera a voz contigo mesmo.

Se tiveres de anunciar alguma virtude que não possuis,

fala das qualidades dos companheiros e dos esforços que eles fazem para melhorar.

Espírito Miramez



Médium é toda pessoa que sente, em um grau qualquer, a influência dos espíritos. A mediunidade é a faculdade que, se desenvolvida ordenadamente, poderá servir de veículo de comunicação entre os dois planos da vida, o espiritual e o material. Essa faculdade é inerente ao homem, porém usualmente, tal qualificação só se aplica àqueles que, devido a organismos mais sensíveis, têm a faculdade mediúnica nitidamente caracterizada e manifestada por efeitos de uma intensidade maior. A mediunidade é um dos recursos mais eficiente para o resgate dos carmas.
A mediunidade é a exteriorização de um dom que aflorou no ser e que, se bem desenvolvida, irá acelerar sua evolução espiritual. Portanto, não é uma provação. Também não é uma punição cármica, mas, um ótimo recurso facultado pela Lei, para a harmonização com nossas ligações ancestrais.
O médium, desde que integrado à corrente espiritual de um centro de Umbanda, torna-se beneficiário direto dos orixás, recebendo seu amparo e direção. Mesmo que sua mediunidade de incorporação demore a aflorar, ou nunca aconteça, está religado aos orixás por sua fé e é importante para a corrente, que confiará a ele algum outro tipo de trabalho nas atividades da casa: auxílio aos trabalhos dos guias, orientação à assistência, canto dos pontos aos orixás, etc. Todos os médiuns de uma corrente estão sob a irradiação direta dos orixás.

Fonte: Manual Doutrinário, Ritualístico e Comportamental Umbandista, Rubens Saraceni.

AS ÁRVORES E A UMBANDA

Certo dia, um jovem dissidente de nossa religião, dirigindo-se a mim, queixou-se:
- Pai Silvio, deixei de seguir a Umbanda por achá-la muito confusa. Não consegui entender o emaranhado de caminhos que me ofereceu, todos se apresentando como detentores da Verdade Máxima, como o único braço de Deus capaz de se estender a mim e salvaguardar-me dos sofrimentos, das angústias, das incertezas, das injustiças e com condições de ajudar-me a encontrar a prometida redenção, do lado de lá, quando eu vier a desencarnar. Afinal, por não saber distinguir qual deles representava a Realidade Inquestionável e a solução para todos os meus problemas, peguei meus apetrechos, minhas guias de firmeza, minhas roupas brancas e tudo o que havia ofertado aos meus protetores espirituais e orixás e despachei nas águas do mar. Não quero mais saber dessas coisas. É um tal de Umbanda de Raiz, Umbanda Branca, Umbanda Omolocô, Umbanda de Jurema, Umbanda Esotérica, Umbanda Cabalística, Umbanda Carismática, Umbanda Sagrada, Umbanda Traçada, Umbanda Iniciática, Umbanda Tradicional, Umbanda Mística, Umbanda isso..., Umbanda aquilo, arre! Não dá pra entender mais nada! Para mim, Umbanda tem que ser uma coisa só. Umbanda é Umbanda e nada mais! É assim que a defino.
Então, depois de ouvir, atentamente, seu desabafo, percebendo que o que lhe faltava era uma transparente orientação lhe expliquei:
- Em parte, você está coberto de razão. Umbanda é Umbanda, assim como as são, cada uma dessas segmentações que você acaba de descrever em tom de crítica e reprovação. Porém, não se pode dar àquilo que não estamos habilitados a compreender, interpretações errôneas e vazias. Tais Umbandas, não retratam um braço único do Criador, mas, incontáveis braços e mãos que o Construtor do Universo coloca à disposição de todos os que o procuram, seja lá por que caminho for. Lembre-se de Sua admirável capacidade de onipresença. Ele está, não somente nas Umbandas que você acaba de mencionar, mas em todos os lugares; do macro ao micro, das gigantescas galáxias às diminutas parcelas atômicas e não faz distinções entre os filhos de Sua criação e suas crenças. Particularmente, vejo a Umbanda como se fora uma esplendorosa árvore frutífera, pois, somente assim é possível clarear este entendimento.
- Agora então, Pai Silvio, complicou-se, de vez a minha compreensão a respeito deste assunto. – retrucou o rapaz, cheio de dúvidas e de avidez. – Que raios de analogia mais esquisita é essa que o senhor está usando como base para tentar me convencer!? - Não há nada de estranho ou excepcional em minha comparação. – afirmei. – Você nunca reparou na sapiência de que está dotada a Mãe Natureza? Nunca percebeu que suas opções jamais fogem a uma imutável Lei elaborada pelo Pai Onipotente? Ela não cria regras, apenas configura as coisas, de acordo com a situação e suas necessidades de sobrevivência. Assim, se um obstáculo surge à sua frente, não se torna estacionária ou se declara derrotada, contorna-o ou o sobrepõe atingindo o lado oposto para dar continuidade à sua caminhada e ao seu desenvolvimento e, dessa forma, como uma imbatível guerreira, tem-se mostrado vitoriosa na conquista de seus objetivos.
- Continuo não entendendo tal similitude! – declarou
- As árvores raciocinam? – perguntei-lhe.
- É lógico que não! – respondeu.
- E você, raciocina? – tornei.
- É evidente que sim. – disse-me.
- E qual dos dois tem se mostrado mais eficaz nos ajustes que devem ser feitos para o alcance do equilíbrio vital, o ser vegetal, que é irracional, ou você que nasceu com o dom da inteligência e com a capacidade do uso da razão para conhecer e julgar a relação das coisas, para deduzir, discorrer, pensar, refletir e considerar? – interpelei-o.
- Neste caso, acredito que tem sido a Natureza que, de acordo com o exposto, jamais desiste ou deserta da luta pelos seus propósitos, mesmo diante dos efeitos negativos e das intempéries que lhe tentam cercear o âmbito que lhe é salutar.
- Pois bem! – adverti-o ao mesmo tempo em que tentava lhe despertar os sentidos da percepção e da objetividade.
– Você nunca se questionou, por que motivo as árvores jamais geram seus galhos todos voltados para um lado só?
- Não. – redargüiu ansioso para saber o desfeche de minha narrativa.
- Note – prossegui -, que se tal acontecesse, esses vegetais provocariam uma distorção nas regras físicas e na ordem do comedimento e, certamente, tombariam vencidos pelas Leis, do Peso e da Gravidade, fugindo à necessária estabilidade que lhes permite mostrar sua utilidade no reino do qual se ocupam. É por isso que os distribui de forma equânime, simétrica, ascendente e se mantém em freqüente crescimento, impulsionados pela natural força de renovação. Cada um desses galhos deve ser visto como as Umbandas que você não conseguiu atinar às verdadeiras finalidades. Todas essas ramificações fazem parte de um processo comum. Invariavelmente, por elas, virão também as flores e depois os frutos que nos alimentarão ou lhes darão a oportunidade de preservação de suas espécies através de selecionadas sementes que, certamente, gerarão. O que se diferencia é, tão somente, a capacidade produtiva de cada uma, ou seja, umas abundarão mais do que as outras, dependendo do seu preparo interior, mas, isso, acontecerá, exclusivamente, com aquelas que, por livre-escolha e esforço próprio se ajustarem para a obtenção de tal merecimento, enquanto que, as demais, apodrecerão e cairão por terra, a qual lhes dará nova destinação (provavelmente saciarão os pássaros, os insetos, ou virarão adubo), já que, no universo, tudo se transforma. Repare, meu irmão, que, apesar da variedade de sendas ofertadas, representadas por essas ramagens, todas irão produzir o mesmo fruto, uma vez que derivam de um mesmo tronco e são alimentadas pelas mesmas raízes, embora umas se voltem para o norte, outras o fazem para o sul, algumas se expandem para o rumo leste e as restantes para o oeste, mas, se você olhar para o seu conjunto, perceberá que todas elas exibem um crescimento direcionando-se para o alto.Assim se dá com a pluralidade umbandista, importando, antes, o lugar-comum entre elas existentes: o AMOR, a CARIDADE, a HARMONIA, a FRATERNIDADE, a EVOLUÇÃO ESPIRITUAL DOS SERES, A PAZ, e a mola propulsora desse conjunto, chamada: FÉ.
Depois de escutar minha explanação, compreendeu, o adolescente, a necessidade de tal diversidade e, ruborizado, com os olhos inundados de lágrimas e animado pela obtenção da nova visão respeitante à Sagrada Doutrina da qual houvera desertado, decidiu:
- Retornarei às fileiras da Umbanda. Pedirei “maleime” (perdão) a Zambi (Deus), aos Orixás, à Entidade Mentora do humilde templo do qual eu participava, aos meus Guias e Protetores Espirituais, ao meu respeitável Chefe-de-Terreiro e repararei meu ato impensado, pois, agora, compreendi que, um médium só se faz com paciência, perseverança, estudos, humildade, fidelidade e crença viva nas diretrizes almejadas. Entendi que, sem a junção das árvores não se constrói uma floresta, sem a sua ramagem a árvore é fraca; sem as suas raízes a árvore é morta, ou seja, sem este imenso conjunto de variedades que se convergem a um ideal comum, sustentado por um mesmo fundamento, a UMBANDA perderia sua expressão, sua beleza e seu poder. Já posso perceber, depois de suas palavras, o desanuviamento de minha cegueira, o surgimento de uma transparência, com especial brilho, oriundo desses caminhos, e capacitei-me a reconhecer que são dádivas celestiais a nos ofertar a oportunidade de abrirmos nossos corações para a verdadeira vida; aquela que se insere nas sementes produzidas por esses incomparáveis ELOS, impulsionados pela geratriz da força universal que se traduz, simplesmente, por: ESSÊNCIA DIVINA.

Silvio Ferreira da Costa Mattos,